Marcelo Costa de Andrade, o Vampiro de Niterói
No dia 16 de dezembro de 1991 a polícia de Niterói, região metropolitana do Rio de Janeiro, encontrou o corpo de uma criança de apenas 6 anos de idade em um esgoto da cidade.
Aquele crime havia ocorrido alguns dias antes, e tinha uma testemunha: o irmão mais velho, de apenas 10 anos, da criança morta.
O jovem levou a polícia até o criminoso e, uma vez preso, esse homem começou a falar sobre todos os seus crimes. Foi aí que a população de Niterói conheceu um verdadeiro monstro, o Vampiro de Niterói.
Infância e Adolescência
O protagonista, e vilão, da história de hoje é Marcelo Costa de Andrade, mais conhecido como Vampiro de Niterói, que ficou famoso por ter assassinado, pelo menos, 14 meninos nas cidades de Niterói e Itaboraí entre os meses de abril e dezembro de 1991.
Marcelo Costa de Andrade nasceu no dia 02 de janeiro de 1967, na favela da Rocinha, Rio de Janeiro, onde viveu boa parte de sua infância. Sua mãe era empregada doméstica e seu pai trabalhava como atendente de um bar.
A mãe de Marcelo era agredida quase que diariamente pelo pai do garoto, o que deixava a rotina da família bem conturbada e desestruturada.
Quando Marcelo tinha apenas 5 anos, seus pais se separaram e ele foi mandado para o Ceará para morar com os avós. Segundo ele mesmo, foi um período complicado, porque ele apanhava muito desses avós.
O mais estranho de tudo é que, até então, Marcelo não tinha tido nenhum contato com os avós. Ou seja, ele foi mandado para outro estado, para viver com completos desconhecidos que, ainda por cima, o agrediam.
Mas, algum tempo depois, já com 10 anos, Marcelo voltou para o Rio de Janeiro. Essa volta acabou sendo ainda pior para Marcelo, porque ele passou a ser vítima de maus-tratos pelos novos companheiros de seus pais.
Ele ficava um tempo com a mãe, depois um tempo com o pai, e sempre apanhava de seus respectivos companheiros. Na casa da mãe, sofria nas mãos do padrasto. Na casa do pai, sofria nas mãos da madrasta.
Entre essas idas e vindas na casa do pai e da mãe, e das diversas agressões sofridas, o jovem Marcelo foi abusado sexualmente por um homem mais velho.
Esse abuso foi a gota d´água na vida do garoto, ele não aguentava mais aquilo e, por esse motivo, acabou fugindo de casa e passou a morar na rua, sobrevivendo através de prostituição, que foi a forma mais fácil que ele encontrou de ganhar algum dinheiro pra se sustentar.
Acabou que Marcelo ficou nas ruas por pouco tempo, já que acabou sendo acolhido por uma instituição que abrigava meninos que tinham entre 6 e 13 anos.
O menino não tinha um bom desempenho nas aulas, costumava tirar notas baixas e era muito zoado pelos colegas. Ele sofria bullying e era constantemente chamado de retardado.
Quando completou 14 anos, e já não podia mais ficar no abrigo, Marcelo Costa de Andrade voltou a morar nas ruas e voltou também a trabalhar com prostituição.
Nessa época, o rapaz ficava na região da Central do Brasil em busca de “trabalho”. Segundo ele, seus clientes eram homens mais velhos que gostavam de meninos novos.
Segundo o próprio Marcelo, ele sempre era o ativo durante seus programas, mas teve um dia que ele pegou um cliente que o teria obrigado a ser passivo, e isso acabou perturbando muito o menino que já era meio perturbado.
Por tudo isso, ele tentou até cometer suicídio uma vez nessa época, mas acabou não conseguindo.
Um tempo depois, Marcelo chegou a ser enviado para uma outra instituição que tinha o nome de Fundação do Bem-Estar do Menor, mais conhecida como Funabem, que fica em Quintino, zona norte da cidade do RJ, mas ele acabou fugindo e voltou pra sua rotina de prostituição nas ruas.
Com 16 anos, a vida de Marcelo parecia que ia mudar pra melhor. Isso porque ele acabou conhecendo um homem mais velho, o porteiro Antônio Batista Freire, que começou a sustentar Marcelo e o apresentou à Igreja Universal do Reino de Deus.
Eles começaram um relacionamento e Marcelo acabou indo morar com o porteiro, mas mesmo assim continuava se prostituindo, o que acabou incomodando Antônio e eles acabaram se separando e Marcelo voltou para a casa da família.
A partir daí, Marcelo acabou largando de vez a prostituição e começou a trabalhar formalmente, ajudando a família a pagar as contas e nos afazeres domésticos. Ele chegou a trabalhar como vendedor de bolsas e distribuidor de panfletos nas ruas.
No entanto, o fato de ter virado membro da Igreja Universal tinha tudo para ter um viés positivo na vida de Marcelo, e até foi, por um determinado período, já que ele acabou largando a prostituição, arrumou um emprego e começou a ter uma vida mais estabilizada.
O problema é que ele começou a consumir cada vez mais coisas da Universal e acabou tendo, digamos assim, uma interpretação errada das coisas. Nessa época, ele assistia os cultos todos os dias na TV e, segundo ele, em um desses cultos, um pastor disse que, quando as crianças morrem, elas vão para o céu.
Quando ele não estava lendo ou vendo algo sobre as pregações do bispo Edir Macedo, que é o fundador da Igreja Universal, ele costumava ver revistas pornográficas e também gostava de ouvir músicas da Xuxa e de outros ídolos infantis da época. Isso já no início da vida adulta.
Certa vez, sua mãe chegou a comentar que, apesar das risadas fora de hora do filho e da coleção de bermudas infantis que ele tinha em seu quarto, ela nunca tinha desconfiado de nada. Marcelo parecia um jovem como qualquer outro.
Foi justamente na melhor fase de Marcelo, quando não existia mais aquela rotina de agressões, ele não estava mais trabalhando com prostituição, conseguiu um emprego formal e voltou a morar com a família que começou sua trajetória de serial killer.
Os crimes do Vampiro de Niterói
Tudo começou no dia 11 de Dezembro de 1991, quando um menino chamado Altair Medeiros de Abreu, de 10 anos, teria saído de casa com seu irmão mais novo, Ivan Medeiros de Abreu, de 6 anos, para vender doces nas ruas do centro de Niterói.
Naquela época, os meninos moravam numa área pobre no bairro de Santa Isabel, em São Gonçalo, município vizinho de Niterói. Essas saídas para vender balas eram, de certa forma, uma maneira dos meninos encontrarem algo para comer.
Nisso, Marcelo, que na época trabalhava no Rio de Janeiro, saiu do trabalho e, na volta, já em Niterói, viu os dois meninos vendendo doces em um sinal. Ele teria oferecido cerca de 4 mil cruzeiros e um prato de comida para que os dois o ajudassem a realizar um ritual religioso. A ideia era que os meninos fossem com Marcelo até um altar para acender velas para São Jorge.
Os meninos, inocentes, aceitaram e os três pegaram juntos um ônibus e foram parar em uma “praia” deserta, nos arredores do Viaduto do Barreto (divisa entre São Gonçalo e Niterói).
Com isso, Marcelo tentou beijar Ivan, que era o mais novo, aí o garoto tentou fugir, mas mesmo assim Marcelo conseguiu pegá-lo de volta, derrubando-o no chão. Altair, que era o irmão mais velho, ficou atordoado com a situação e viu tudo o que aconteceu: viu seu irmão mais novo ser abusado sexualmente por Marcelo que, após o ato, enforcou e matou o garoto.
Depois disso, Marcelo disse que Ivan estava só dormindo e fez com que Altair fizesse tudo o que ele queria. Assustado, Altair não tinha muito o que fazer naquela situação. Era uma criança que estava traumatizada por tudo aquilo que tinha visto e acontecido com o seu irmãozinho.
Então Marcelo levou Altair até um posto de gasolina para que ele se limpasse e seguiram para um matagal onde passaram a noite. Mesmo que, em outra versão, o jovem Altair tenha dito que eles dormiram no esgoto mesmo, onde tudo aconteceu, no viaduto.
Na manhã seguinte, os dois seguiram juntos para a cidade do Rio de Janeiro. Como Marcelo trabalhava no Rio como distribuidor de panfletos, ele teria que aparecer no trabalho para pegar seus papéis, por isso que eles dois foram juntos pro Rio, mas assim que chegou lá, acabou se distraindo e Altair conseguiu fugir.
O menino conseguiu fugir e pegou uma carona de volta para casa. Em um primeiro momento, não revelou que seu irmão tinha sido morto. Ele apenas disse que tinha perdido o irmão no centro de Niterói.
Inclusive, sua família ficou alguns dias procurando pelo jovem Ivan, achando que ele estava perdido pelas ruas. Só dias depois que Altair foi comentar o que aconteceu com uma irmã mais velha, que contou para a mãe deles, Zélia de Abreu, que foi à polícia junto com Altair prestar queixa do que tinha acontecido.
Na delegacia, Altair contou em detalhes tudo o que tinha ocorrido com ele e seu irmão e levou a polícia até o trabalho de Marcelo, que na hora já confessou o crime, não demonstrando nenhum tipo de surpresa ou arrependimento.
Ele, inclusive, disse que ficou surpreso com a demora com que foi encontrado pela polícia. Enfim, Marcelo foi preso e depois acabou confessando outros crimes. Porque, até então, a polícia achava que apenas Ivan tinha sido morto. Era muito comum naquela época que garotos de rua sumissem e tanto a família, quanto a polícia, fizesse pouco caso.
Prisão e Pena
Na delegacia, quando foi preso, Marcelo confirmou aos policiais que matou Altair e que também tinha cometido outros 12 assassinatos naquele ano.
Segundo ele, um dos seus primeiros crimes aconteceu em Junho de 1991, quando ele desceu de um ônibus e viu um menino chamado Odair Jose Muniz dos Santos pedindo dinheiro na rua. Então ele convenceu Odair a acompanhá-lo até a casa de uma tia para pegar 3 mil cruzeiros para dar pro garoto.
É claro que isso aconteceu, e Marcelo acabou levando o menino até um campo de futebol onde tentou estuprar o garoto, mas acabou não conseguindo, e então enforcou ele até a morte.
Depois disso, Marcelo foi pra casa, jantou e voltou mais tarde para decapitar o corpo do menino. Ele disse que fez isso pra se vingar do que faziam com ele na época que ele viveu no internato.
Depois, ele acabou confessando o seu primeiro crime e contou detalhes de como foi. Em Abril de 1991, Marcelo estava voltando do trabalho quando viu um garoto na rua vendendo doces, ele contou a mesma história do dinheiro, o garoto caiu, e Marcelo o levou para um matagal.
Uma vez lá, ele tentou estuprar o garoto, mas acabou não conseguindo porque o garoto resistiu e tal. Então Marcelo começou a bater no garoto com pedras, depois o asfixiou e acabou conseguindo abusar dele. Segundo Marcelo, tudo começou ali e depois disso ele meio que não conseguiu mais parar de cometer esses crimes.
No segundo crime, ele matou um menino de 11 anos chamado Anderson Gomes Goulart. Ele estraçalhou a cabeça do garoto e bebeu o sangue enquanto estuprava ele e, quando terminou, ainda quebrou o pescoço dele.
Foi nesse momento que ele ganhou o apelido de Vampiro de Niterói, porque muitas vezes ele acabava bebendo o sangue das suas vítimas. Ele dizia que precisava beber o sangue das vítimas para ficar bonito e jovem como elas, até porque, segundo o próprio Marcelo, “vampiros não existem”.
Marcelo foi submetido a exames psicológicos e foi constatado que ele tinha um retardo mental, sendo assim irresponsável pelos seus crimes. Ou seja, ele nem acabou sendo julgado pelos seus crimes e foi enviado para um manicômio judiciário. Ao todo, entre os anos de 1993 e 2003, seis psiquiatras fizeram avaliações em Marcelo.
Marcelo está vivo até hoje e cumpre sua pena em manicômios judiciários desde 1993. Atualmente, ele vive no Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico Henrique Roxo, no centro de Niterói.
Ele confessou 13 dos 14 homicídios atribuídos a ele, sendo que só 8 foram confirmados pela polícia. O primeiro manicômio para onde Marcelo foi enviado foi o Heitor Carrilho, aquele mesmo que tinha sido construído para abrigar Febrônio Índio do Brasil.
O tempo mínimo de reclusão nesses manicômios é de 3 anos, e não existe tempo máximo, ou seja, em muitos casos, ir para um manicômio judiciário é sinônimo de reclusão perpétua. Os internos desses locais são avaliados anualmente e um juiz responsável julga se ele está apto, ou não, para ser solto. Eles são soltos apenas quando não demonstram mais periculosidade para a sociedade.
Em 2017, 24 anos depois de ser preso, a defesa de Marcelo tentou fazer com que ele fosse solto, indo pro regime semiaberto, mas a promotora do caso, Danielle Paiva, disse que ele não tem condições de sair do hospital psiquiátrico, porque até hoje fala com orgulho dos crimes que cometeu e não tem consciência nenhuma do que é certo ou errado.
A própria equipe que cuida da sua internação no hospital reforçou que Marcelo é “portador de uma doença mental incurável, que não apresenta condições para a construção de um projeto terapêutico”.
Ou seja, Marcelo foi diagnosticado com uma doença incurável e não pode, em hipótese nenhuma, ser solto, porque não possui capacidade para se reintegrar à sociedade e, por isso, vai continuar cumprindo sua pena no hospital psiquiátrico.
Segundo funcionários do hospital, Marcelo tem um bom comportamento lá dentro e atua como DJ em algumas festas que acontecem por lá. Atualmente, o Vampiro de Niterói está com 54 anos de idade.
Outras imagens do caso
Fontes consultadas
Serial Killers: Made in Brazil, de Ilana Casoy